domingo, 3 de julho de 2011

Prazer Secreto

Eliane Quintella, como sempre muito simpática, presenteou seus leitores com uma ótima notícia! Para quem já leu e curtiu seu primeiro livro, Pacto Secreto, e aguarda ansioso pelo lançamento do segundo, poderá conferir o primeiro capítulo, que ela apresentará em 4 partes. A primeira já está em seu blog, aproveitem para conferir logo mais abaixo ou no blog da autora: http://pactosecreto.com/

Muito obrigada Eliane, e sucesso para você!
De minha parte estou bastante curiosa com o desenrolar da história. Cada um de nós tem suas próprias crenças e desejos, além de uma boa dose de curiosidade, o que nos leva a ler seu livro com crescente expectativa.

Confiram também os elogios que o crítico RENATO POMPEU fez ao livro Pacto Secreto, clicando AQUI.

Um pedaço de Prazer Secreto

1. Juramento de sangue
Lá estava eu em cima do palco com um manto de seda negro olhando aquela plateia de líderes satânicos prontos para assistir minha iniciação.
Estranhamente eu estava calma, talvez por assistir a iniciação dos outros líderes, talvez porque tenha me preparado mentalmente para aguentar o ritual. Sinceramente, eu não sabia, mas estava calma.
Havia chegado a minha vez e os batuques dos tambores soavam forte no ritmo de Carmina Burana e, então, Mr. Sinistro me olhou levadamente; era engraçado como ele estranhamente me parecia extremamente charmoso. Suas mãos quentes encostaram nas minhas, ele levantou meu braço e anunciou ao público:
— Eis uma líder da ordem máxima, a única que temos no Brasil. Aplausos para ela!
Então, ouvi urros e gritos da plateia acompanhados de fortes aplausos e calmamente sorri para o Mr. Sinistro e em seguida para a plateia.
Ele com suas mãos quentes tirou delicadamente meu manto negro e me despiu e fiquei completamente nua na frente daquela multidão. Então, ele me olhou e disse:
— Nos dê seu juramento de sangue!
Eu olhei calmamente para a plateia e abri os braços porque eu queria que meu corpo fizesse o sinal da cruz, a fim de que Deus entendesse que meu juramento não era sincero, afinal eu não sabia praticamente nada da Ordem Satânica misteriosa e agora eu estava sendo compelida a fazer um juramento, que não seria genuíno.
A plateia, ao me ver de braços abertos, compreendeu isso como uma entrega absoluta à Satan, e por isso urraram com ainda mais vontade.
Pronunciei as aguardadas palavras, mas meus braços mantinham firme o sinal da cruz:
— Eu sou de Satan a partir de hoje para sempre. Eu entrego a ele minha alma. Eu renuncio a Deus, a Cristo e ao Espírito Santo. A minha única lei é seguir a minha própria vontade. Estou pronta para ser iniciada!
Enquanto dizia essas palavras meu coração sangrava. Porém, eu tinha que aguentar firme — embora as lágrimas teimassem em querer brotar em meus olhos — pelo bem da Sara. Eu não poderia confidenciar nada, tampouco poderia me desesperar. Se acontecesse qualquer dessas coisas, já seria suficiente para quebrar o pacto e perder a minha vida e a tão aguardada recuperação da minha irmã. E assim, segurei as lágrimas dolorosamente, abrindo um sorriso penoso para a plateia, sentindo em minha coluna escorrer lentamente um suor frio e tenebroso, puro receio da banheira de vermelho escuro de sangue que borbulhava em meu cérebro. Eu seria iniciada e eu ainda sabia bem pouco sobre o pacto e a Ordem.
O Mr. Sinistro sorriu com o meu juramento e me perguntou:
— E qual será seu nome?
— Diana.
—Líderes satânicos eu lhes apresento a nova líder: Diana.
Novos gritos e batuques de tambores. Em poucos segundos fui mergulhada na escura banheira de sangue. Respirei fundo e fechei os olhos com força. O sangue não poderia penetrar em mim. Esses segundos duraram infinitamente. Felizmente, o Mr. Sinistro me trouxe rapidamente à tona. Eu estava inteiramente coberta de sangue. Estranhamente minhas narinas me diziam o contrário. Eu sentia fortemente a fragrância de álcool. Sorri aliviada: a banheira era de vinho tinto.
—Vejam que belo sorriso possui a nossa líder Diana. Aplausos para ela.
Colossais urros da plateia, acolhedores de certa forma. Tive meu manto negro de volta, a qual rapidamente vesti e segui tímida para o fundo do palco.
E o ritual seguiu, despindo-se os novos líderes restantes, mergulhando-os na banheira de vinho tinto de sangue, colhendo seu juramento e apresentando-lhes o novo nome satânico a plateia voraz.
Finda a cerimônia, eu havia sido liberada daquela exposição maluca. Ficar nua na frente de uma plateia era meu pesadelo desde criança e se concretizara para meu horror. Corri para fora do palco o mais rápido que pude e respirei aliviada quando cheguei em terra firme. Estava salva. Fiquei aliviada até me lembrar do que viria depois da cerimônia: o bacanal. Meu coração voltou a bater forte e desesperadamente. Escaparia?
Percebi que o Mr. Sinistro estava me olhando, como se estivesse interessado em mim, era estranho pois eu estava gostando, ele possuía uma força de caráter, uma virilidade, que antes me assustavam, mas agora me encantavam. Como eu não havia percebido sua beleza descomunal? Estivera cega?
Antes que eu pudesse refletir a respeito dos meus novos sentimentos pelo Mr. Sinistro, as mudanças no salão começaram a acontecer. Em pouquíssimos minutos, as cadeiras automaticamente afundaram no chão, as pessoas subiram no palco ou subiram para parte mais alta do teatro; em seguida, novo barulho de motor e da parede direita do teatro saiu uma enorme placa quadriculada que cobriu todo o teatro à exceção do palco e da parte mais alta do teatro, transformando o teatro em um enorme salão. Ao longo de todas as paredes brotaram automaticamente bancos. Eu, que tinha voltado ao palco, fomos em direção ao fundo do palco, então, o palco girou e se transformou em um enorme bar.
Terminada a transformação, um frio arrepiou minha espinha, eu sabia que o bacanal rapidamente começaria e eu não queria participar. Eu senti as mãos quentes de algum membro satânico em minhas costas sobre a seda encharcada de vinho tinto e quando olhei era do próprio enviado, a quem finalmente eu podia chamá-lo por seu nome, ainda que fosse seu nome apenas na Ordem Satânica: Mantus.
— Olá Diana. Preciso me acostumar com seu novo nome.
— Olá Mantus — disse meio sem jeito considerando meus trajes regados a vinho tinto para mim absolutamente inapropriados.
— Somos proibidos de nos chamarmos pelo nome que temos fora daqui. Aliás, ninguém é obrigado a revelar sua identidade. A pessoa que você um dia foi, já não existe mais.
— Como se eu soubesse seu nome fora da Ordem, Mantus. Você nunca me disse, esqueceu? De qualquer forma, obrigada por avisar. Vou ficar de olho para ver se ninguém vai pronunciar meu nome em vão — disse sorrindo.
—Fique tranquila que quem sabe é obrigado por nossa Ordem a manter sigilo absoluto e jamais usar essa informação para beneficiar a si mesmo ou a outros ou te prejudicar. É uma regra sagrada. Espera, Diana. Como você sabe meu nome na Ordem?
—Já se esqueceu da minha visita a este casarão?
—Não, Diana. Com o tempo você entenderá que não deve revelar seu nome. Seu nome em segredo é sua proteção, inclusive proteção à magia.
— Eu vejo que tenho muito a aprender.
— Você gostará daqui. Sei disso.
— E cadê minha grande amiga? Você sabe que eu não posso falar seu nome. Não me obrigue a ter que falar — disse sorrindo com cara de sapeca.
— Lilith? Ela está no curso que temos para advogados.
— Interessante.
— Um curso onde se aprende sobre a visão satânica do Direito. Você sabe como as leis e o sistema podem ser manipulados a nos favorecer.
—Eu quase morri por minha curiosidade, bem, você sabe, eu fiquei até hospitalizada, mas consegui ouvir um pouco desse curso, e… — disse insinuando que havia escutado ao curso que o Mantus frequentava — também sobre outros cursos…
— Gostou do que ouviu? — Seus olhos brilhavam em seu rosto divinamente angelical.
— Eu não me interesso muito por Direito.
— Por quê?
— Bem, eu sigo meus próprios princípios, minhas regras, sempre fui assim. Sinceramente, eu não acredito que as leis alcancem realmente seu objetivo, tampouco acredito que as leis consigam ser tão maleáveis como nossa liberdade de pensar, decidir e agir. E eu sempre gostei de ser livre.
— Eu já imaginava — disse com seu sorriso maravilhoso olhando fixamente em meus olhos. — Sabe nós também não gostamos de lei e não fazemos a menor questão de respeitá-la. Porém, é incrível como se consegue rasgar o espírito da lei dentro do próprio sistema. Verdadeiramente só isso que estudamos aqui, você sabe como usar a lei para alcançar sua própria vontade, seu desejo mais particular.
Eu não sabia se era a minha nova condição de demonizada ou o quê; o fato é que eu não sentia tremedeiras, vontade de desmaiar, tampouco meu coração acelerava, apenas achava Mantus incrivelmente belo, porém não existia mais delírio algum da minha parte. Parecia que a febre que ele me causava tinha felizmente chegado ao fim.
— Mas há outras aulas aqui que irão me interessar — disse a ele francamente.
— Eu tenho certeza disso. Você acha que está pronta para ser iniciada?
— Você acha que sim, Mantus?
— Acredito que sim. Não é fácil. As provas de iniciação podem ser cruéis.
— Me conta! Como é a iniciação?
— Não posso dizer muito. É necessário que realmente seja uma surpresa para você.
— Você e seus segredos… Havia me esquecido.
— É sério. Valen… Desculpe-me, Diana.
— Cuidado. Parece que você quer dar com a língua nos dentes e quebrar meu segredo.
—Desculpe-me. Isso não se repetirá — ele disse me olhando seriamente, como se tivesse cometido um grande erro.
—Mantus, podemos ter conversas pessoais aqui?
— Depende…
— Posso saber o que faz? Onde trabalha? Quem você é?
— Perguntas relativas à minha identidade, não. Sabe, eu não me interesso em partilhar detalhes da minha vida pessoal. Não vejo objetivo algum nisso. Porém, podemos falar sobre sentimentos, experiências, conhecimento e tudo mais que quiser. Tudo que possa realmente lhe ser útil.
— Eu não gosto muito de conversa sentimental… Me desculpe.
— Não se esqueça que, se precisar desabafar, pode contar comigo — falou em tom de brincadeira.
— Obrigada, mas não o considero meu amigo.
— Que maldade! Depois de tudo que fiz para você? — disse sorrindo ironicamente.
—Acredite se quiser — disse ainda mais irônica.
Olhei a minha volta e as pessoas se beijavam, bebiam, se drogavam, transavam, alguns dançavam alucinadamente sob as batidas tresloucadas do rock que consumia o salão.
— Bem, me parece que a festa começou. Se você me der licença… — disse educadamente.
— Você não quer aproveitar e matar sua vontade e finalmente fazer um sexo esportivo comigo? — disse sedutoramente
— Lilith deixaria? — fingia preocupação.
— Não há problema algum, se for nesta festa em que a ordem é o absoluto desapego, liberdade sexual, busca simples e pura do prazer entre pessoas que se atraem fisicamente, como você e eu. Hoje a noite é de Dionísio e somos todos seus fiéis discípulos — sua voz era extremamente sensual e ele meu puxou para perto dele fazendo com que meu corpo se encostasse em seu corpo escultural e quente.
Olhei para as paredes e para o teto e havia belíssimas pinturas de Dionísio e seus colossais e consagrados bacanais. Engraçado, podia ser o medo que eu tinha no dia que ingressei ilegitimamente no casarão, mas eu não havia reparado naquelas belíssimas pinturas inspiradas no renascimento.

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Imagem de Mariana Britto
Sigo andando a passos largos...
...sem rumo e sem destino, apenas observando o que se passa e o que passou, o conhecimento traz prazer mas também traz dor.
Jade

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